segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Chuva

Olhando pela janela eu vejo os raios, ouço os trovões; o anúncio de que ela está chegando.

A chuva que vem pra levar as casas morro abaixo, destruir as pontes de concreto que existem há tantos anos, cortar as comunicações.
A chuva que causa o caos, que separa, que traz tristeza.

A chuva que vem pra estragar a brincadeira das crianças, levar os chinelos sem par nas enxurradas, pegar os desprevenidos na rua.
A chuva que molha o solo e faz crescer as plantas e lava os carros.

Olhando pela janela eu vejo os raios, ouço os trovões; o anúncio de que ela está chegando.
Um espetáculo da natureza que interage com a sua plateia.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Favorite Quotes - Parte II

"Yes, London. You know, fish, chips, cups of tea, bad food, worse weather, Mary-fucking-Poppins. London!"
quem/ onde: Denis Farina em Snatch, Porcos e Diamantes

"A palavra cria vida e muda a vida da gente e dos que estão ao nosso redor"
quem/ onde: não lembro bem quem disse (e não consegui encontrar a frase em espanhol), mas foi do filme Fale com Ela

"Sometimes I wish I smoked, so you could sneak outside without anybody knowing something's wrong with you"
quem/ onde: Sookie Stackhouse, em True Blood

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Ideias absurdas - Parte I

A leitura de 1984 me rendeu várias ideias - e vários posts, talvez nem todos passíveis de publicação.

Estava pensando esses dias no alvoroço dessa época natalina.
Uns correndo atrás de presentes, gastando horrores, entrando no cheque especial, se acotovelando em busca do último pacote na prateleira.
Outros preocupados com as boas ações porque "Natal é época de fazer algo de bom pelo outro e blábláblá".
Outros desesperados para aumentar o faturamento do ano, para ganhar mais dinheiro e se sair melhor do que no ano anterior.
Outros, ainda, enlouquecidos para conseguir fazer tudo que não fizeram durante o ano todo e que, agora resolveram, TÊM que concluir nos últimos trinta dias - depois de mais de trezentos e tantos jogados no lixo pensando "ainda tem tempo".

Por que não se mexeu antes? Por que não comprou presentes aos que você gosta durante o ano, porque não fez boas ações o ano todo? Por que não correu atrás do prejuízo antes, porque deixou tudo pra última hora?

Uma das ideias de 1984 me parece interessante agora: no livro, não há passado, ninguém sabe em que ano estão, nem pra onde vão nem o que aconteceu. Todos acreditam simplesmente na notícia que é disponibilizada no dia. Ninguém trabalha e vive para um começo e um fim, todos trabalham normalmente e vivem todos os dias simplesmente como um dia após o outro. Porque precisamos que um ano termine e o outro comece? Porque precisamos da correria louca de Natal, da desculpa da data para querer resolver todos os nossos problemas e pendências?

Será que as pessoas realmente acreditam que o término de um ano e início do outro vão mudar alguma coisa? O que é um ano, afinal? E se todas as contas estiverem erradas e, na verdade, um ano não tem 365 dias? E se o ano não tiver nenhuma semelhança com o modelo que adotamos como certo? Qual a diferença?

Talvez o ser humano precise disso. Precise de uma esperança vinda de fora, porque não tem forças suficientes para criar esperança dentro de si mesmo e mudar a situação sem a desculpa de que "o ano ruim está terminando, mas outro melhor virá".

Mera superstição..

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

A Saga

Você quer ser como ela, quer ter a vida dela, por mais miserável que seja. Esse é o grande problema da indústria cinematográfica: eles fazem você esquecer da sua vida, dos seus problemas, das suas contas por cerca de duas horas, até que você tem que cair na realidade novamente. Por mais atrapalhada que alguém esteja, sempre parece mais atraente e interessante no cinema do que na vida real.

Isso nos leva àquelas histórias fantasiosas, impossíveis, incríveis. Vampiros x lobisomens. Quem não gostaria de estar no meio deles? De ser amiga de ambos, namorada de um deles? O tema não é novo. Mas ainda chama a atenção, ainda desperta o interesse. Não paro de me perguntar como a Saga Crepúsculo pode ter feito tanto sucesso. O único motivo a que eu consigo atribuir tamanho sucesso é uma versão adolescente desse universo fantástico (censura maiores de 12 anos, que público vasto!!), somada a rostinhos bonitos e abdômens - muito - bem definidos. Num país onde as pessoas leem 1,3 livro por ano (incluindo livros pedagógicos e didáticos, onde vamos parar?!), graças à Saga, esse número já subiu um pouco.

Quase um conto de fadas. Mas sem fadas.

Os livros são vazios, cheios de capítulos que estão lá apenas para aumentar o número de páginas, para fazer volume, que ficam dando voltas, mordendo o próprio rabo. A autora não consegue disfarçar sua crença no catolicismo, esquecendo-se talvez, de que estava escrevendo um livro de vampiros, colocando referências aqui e ali. A mocinha quer se tornar um deles, o mocinho impõe uma condição: só casando. A mocinha se casa com o mocinho e eles têm um filho (!) half human half vampire (!!). E então a mocinha finalmente "vira mulherzinha e entra para o clã", mas não sem antes ressuscitar ao terceiro dia de sua passagem do mundo dos vivos para o mundo dos mortos (yea, right..).

Eu sugeriria à autora que fosse escrever livros de auto ajuda e afins, mas aparentemente esses deram certo, o que torna minha sugestão, digamos, inútil.
Ok, keep going, then. Qualquer coisa para aumentar nossos vergonhosos índices de leitura.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Lacuna

Seus cabelos ruivos balançavam. Mas não balançavam ao vento, e sim, ao movimento rítmico que ela fazia, sentada naquela cadeira desconfortável que estava tão próxima da parede que chegava a fazer sulcos.
Esperar simplesmente a deixava louca. Mas ali estava ela, esperando. E não havia nada mais que ela podia fazer.

Ainda assim, sentia necessidade de se colocar em movimento. Olhava para todos os lados até descobrir algo que poderia fazer. Finalmente encontrou um copo mal encaixado no suporte, que estaria prestes a cair. Levantou-se rapidamente e foi arrumá-lo. Estava voltando a sua cadeira, mas resolveu dar voltas. Sete passos pra lá e tornava a fazer o mesmo caminho de volta. Pra lá e pra cá.

Sentia que tinha atividades não terminadas, que estava perdendo tempo, que teria muito a fazer se pudesse estar em casa. Como se já não tivesse feito tudo antes de sair.

Voltou a sentar-se, inquieta, balançando as pernas como uma criança que não consegue tocar o chão quando está sentada na cadeira da mesa de jantar, entediada com o prato de verduras que a mãe colocou em sua frente porque você tem que comer direito, minha filha, pra crescer forte e saudável.
Seus dedos começaram a tocar a cadeira ao lado, como duas baquetas mostrando como se faz um rock pesado. Resolveu procurar um chiclete na bolsa, para mastigar sem sentido e sem propósito enquanto folheava mecanicamente a primeira revista de fofocas que retirou da mesa ao lado.

Finalmente a porta se abriu, um jovem saiu do consultório andando lentamente e no mundo da lua, até que uma figura materna lhe acudiu perguntando como foi sua terapia hoje? O menino começou a responder no exato momento que ela se virou e viu o rosto enrugado da médica na porta, sorrindo e esperando por ela.

Pulou da cadeira imediatamente e cuspiu o chiclete fora antes de entrar.

domingo, 1 de novembro de 2009

Querido Diário,

Hoje eu levei a cancela do Sem Parar. E economizei seislão.
Ooops! Sorry...

sábado, 31 de outubro de 2009

Chuva fina

Chuva fina no meu para-brisa
Vento de saudade no meu peito

Visibilidade distorcida

Pela lágrima caída

Pela dor da solidão


Adoro quando estou parada no trânsito e vejo aquela chuva fina caindo suave no vidro da frente. Desligo o limpador e observo as gotículas que caem quase que ritmicamente, como um balé de lágrimas choradas por um céu cinzento e triste, e escorrem rapidamente para baixo, para o chão, juntar-se com as outras milhões de lágrimas choradas antes delas, formando um rio de tristeza na sarjeta.

O semáforo demora a abrir e eu me pergunto se o que está embaçando é o vidro ou se são meus olhos. A boa visão vai ficando comprometida e as gotas vão caindo cada vez em maior quantidade, até que resolvo limpar o vidro, assim como uma criança limpa os olhos depois de chorar copiosamente dentro uma loja de brinquedos, pedindo algo que o pai não pode dar - quem chora mais, o pai ou o filho?

O vermelho vira verde, e eu rumo para casa, enxugando os olhos para enxergar o caminho de volta pra você.
x

Halloween

Então, tem as historinhas de vampiros, bruxas, fantasmas, navios-fantasma e blá blá blá... e tem os japoneses.
E os japas são foda.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Frase

"A chuva deformou a cor das horas"
(Manoel de Barros)

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Harmonia

Cumpriu sua pena.
Depois de longo tempo em reclusão finalmente foi posto em liberdade. Depois de longo tempo, reforçado pelas duras horas pelas quais passou, cumprindo trabalhos forçados e sendo torturado física e psicologicamente, mal podia acreditar havia chegado a hora de dizer adeus àqueles dias.

Não sabia bem o que fazer, como agir, onde ir. Então achou que era melhor deixar-se levar pelo seu instinto nessas primeiras horas, nesses primeiros dias de vida. Após completar o procedimento de saída, viu-se tão ávido a sair logo daquele lugar que nem se deu conta de que já estava caminhando livre.

Após cruzar a velha estrada, sentiu o sol dar-lhe um tapinha nas costas. Há quanto tempo não sentia o solzinho esquentar-lhe os ombros! Aí sim, deu-se conta, de que já estava fora, de que já havia cumprido sua parte, de que não devia mais nada a ninguém - apenas a si mesmo, e isso ele carregaria pelo restante de sua vida, recluso ou não. Neste momento, ouviu também a festa que os passarinhos faziam, ouviu o vento balançar as folhas das árvores e levantar graciosamente a poeira do chão. Sentiu-se vivo.

Sentiu-se vivo e deu-se conta de que estava com sede e seguiu em direção ao riacho. Caminhou um pouco, mas o sol os passarinhos ainda lhe acompanhavam, e ele estava feliz. Ao chegar na margem, agachou-se e fechou as mãos numa tentativa de formar um copo onde pudesse colher um pouco de água para beber. Repetiu o ato várias vezes e, então, decidiu-se livrar daquele cheiro, daquele asco que aquele lugar tinha. Como o lugar era deserto, tirou as roupas, dobrando-as cuidadosamente e colocando-as onde estava sentado, entrou na água e sentiu-a, na temperatura mais perfeita, envolvendo seu corpo.

Demorou-se naquele momento tão renovador e, quando finalmente saiu, sentou-se na borda do riacho, observando a natureza em volta e tudo que havia perdido naquele longo tempo em que perdera contato com o mundo. Sentiu-se tão a vontade que parecia que simplesmente estivera naquele mesmo lugar sua vida toda.

Agora, a vida estava apenas (re)começando.

sábado, 17 de outubro de 2009

Indigestão

Junte todo esse seu orgulho, espalhe bem num pão integral e coma tudo. Devagar, para não dar indigestão - lembre-se: dentes só os temos na boca, portanto tudo que for mal mastigado vai fatalmente causar-lhe dor de estõmago.

Engoliu? Agora peça desculpas por tamanha estupidez e grosseria.

Não é capaz disso? Ah, está se sentindo indisposto? Então enfie o maldito dedo da goela e suma da minha frente. Você não tem jeito.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A estação mais alegre do ano

A rua se parece com os filmes de deserto que assistimos na TV, com algo que se assemelha a uma neblina e embaça e confunde os olhos.

O dia se arrasta em meio a uma permanente sensação de pressão: o mundo pressionando cada centímetro da pele contra os ossos; a pele, já sem espaço para continuar a cobrir o corpo, parece se proteger da temperatura disparando inofensivos jatinhos de água que escorrem pela testa, pelo pescoço, pelas costas, em direção ao chão de areia movediça que parece querer sugar os pés até o centro da Terra - como se o calor insuportável ainda não fosse suficiente, como se lá no meio de tudo estivesse mais agradável.

Chego em casa a noite e ainda está quente. O calor é tanto que eu quase me esqueço que estou lavando louça e me sinto culpada por estar desperdiçando tanta água para satisfazer um prazer - que, em dias como esse, beira a necessidade física.

A próxima atividade da noite é lavar roupa e, quando leio a embalagem do Vanish que pede que água morna seja usada no processo, eu penso comigo Que dia perfeito pra lavar roupa branca. Muito obrigada, Senhor, pelo calor infernal.

As velas do jantar já se derretem sozinhas - adestradas, pelo futuro que as espera ou pessimistas prevenidas, prevendo o futuro e já se antecipando a ele. Noto que o vinho que banha as peras que tenho de sobremesa está em temperatura ambiente. Sopa de pera. Caldo de pera.

Por último, antes me deitar - e, com sorte, dormir - passo os olhos pelo calendário e constato: de acordo com os ciclos menstruais da natureza, o verão só começa daqui dois meses. Enquanto isso, vamos fritando no ventre da Terra.

domingo, 4 de outubro de 2009

(i)mortal

Eu era invencível, intocável.
O mundo se ajoelhava diante de mim e fazia minhas vontades. Todos queriam me agradar.
Todos queriam estar no meu lugar, eu era invejada.
Eu estava no topo. Eu era imortal.
E infeliz.

Joguei-me do pedestal e fui caindo, caindo, caindo. Agora estou no chão, como todos os outros.
Cai e senti o gosto do sangue, escorrendo pelo canto da boca.
Agora eu sangro, como todos os outros.
Mas não me ajoelho pra ninguém, não invejo ninguém, não quero ser ninguém.
Agora, sou feliz.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Corzinha

Finalmente um relógio só pra combinar com todas as roupas.

domingo, 27 de setembro de 2009

Dono do mundo

- O senhor sabe que não se pode parar o carro na calçada?...
- (...)
- O senhor é o novo morador?..
- É, eu tô pegando um movel aí.. eu sou o DONO.

Poxa! Se tivesse começado a conversa falando que era o DONO, estaria completamente desculpado! Porque, imagina, claro que o DONO pode parar em frente da sua garagem e da garagem do vizinho, que por acaso também é dono do apartamento. Mas, diferentemente de você, tem educação! Que coisa, não é mesmo?!
Mil desculpas, você está parado em uma garagem que não é a sua, não tem a unha do meu dedo mindinho do pé (que é muito, muito pequena) de educação e nem errado está!

O que ganhamos sendo educados e corretos? Qual a recompensa pela justiça dos atos? Apenas uma consciência limpa? Ora, isso é realmente muito pouco e, com certeza, não vale o investimento.
Todos querem se aproveitar de alguém sempre que possível. Para quê? Acredito eu que é para se sentirem superiores, talvez devido a um trama de infância qualquer, no qual aprenderam que só podem ser melhores que os outros pisando neles. Pais idiotas, de maneira alguma preparados para ensinarem o que é certo e o que é justo. Crianças criadas de qualquer jeito, aos trancos e solavancos. Os bruta-montes de hoje em dia. Que criarão os bruta-montes do futuro.

"Não sou o dono do mundo, mas sou o filho dele".

Realidades

"É como se todo mundo tivesse firmado um acordo tácito de viver num estado de total auto-ilusão (...) e, se a realidade um dia escapar e vier nos assustar, vamos seguir em frente e fingir que nada aconteceu." (Revolutionary Road)

Realidade? Do que você está falando? O meu mundo é esse, esse que eu vivo todos os dias, esse que faz sentido pra mim. Eu não dou a mínima pro fato de você achar que eu vivo numa bolha, num mundo inventado. Esse é o meu mundo e é ele que me importa. Eu não quero saber do seu, dos seus problemas, das suas alegrias. Não divida nada comigo porque eu não me importo com nada que me force a tirar os olhos do meu umbigo, do meu umbigo lindo e perfeito. Eu dou de ombros pra você e suas historinhas.
E daí se você não concorda comigo? E daí se você acha que eu estou errado? Ora, eu já tenho muitas coisas pra me preocupar, não sei porque continuo ouvindo suas asneiras. Eu não ganho nada ouvindo esse blábláblá.
E não sei de qual realidade você está falando. Porque a minha definitivamente não é assim.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Favorite Quotes - Parte I

1. It seems to me the problems you worry yourself sick about never seem to
materialize. It's the ones that catch you unexpectedly on a Wednesday
afternoon that knock you sideways.


2. Strange.
But even when you know it has to end.. when it finally does.. you always
get that inevitable twinge: have I done the right thing?


3. - You know, I never... I never meant...
- You never mean to hurt anybody. But you do, Alfie.

4. Shop till you drop, girls.

5. There's two things I learned in life, kid: you find someone to love and live
every day as though it were your last.



Alfie

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A vida na granja urbana

Estou vivenciando o que eu chamaria de o upgrade da Revolução dos Bichos: no livro, eles (apenas) expulsam o fazendeiro e começam a cuidar da fazenda sozinhos, em todos os sentidos. A novidade é que, aqui onde moro, os bichos também viraram motoristas.

Todos os dias galinhas, porcos, jumentos e cavalos cruzam a minha frente sem medir consequências; na "Granja do Solar" da minha vida, as galinhas desfilam em seus carrões e esquecem que o trânsito requer atenção permanente. Os porcos jogam lixo pra fora do carro inescrupulosamente. Os jumentos, por sua vez, violam as leis de trânsito, não respeitam a sinalização e os limites de velocidade e nunca estão errados em suas escolhas. E os cavalos cortam a frente, fecham os outros, reclamam, xingam, não dão espaço para ninguém entrar. E, claro, todos estão sempre certos.

Todos os dias, eu encontro tais bichos no trânsito, mas em nenhum momento eu me irrito tanto quando estou prestes a voltar para casa. Meu prédio ocupa uma esquina, cuja rua do lado leva a rua de mão dupla e faixas estreitas que passa em frente a ele. A rua do lado tem uma sinalização de Pare, que motorista algum gosta de obedecer. Minha seta vem piscando desde a metade do quarteirão anterior e, mesmo assim, eu tenho que frear para não atropelar motociclistas que acham correto passar entre o meu carro, prestes a embicar na garagem, e a calçada (ou, sugestão recente, que acreditam que eu devo esperar o portão se abrir no meio da rua, provavelmente enquanto observo a fila de motoristas raivosos se formando atrás de mim).

Eu só gostaria de saber se estou errada (vai que essa também é uma situação inventada: enquanto eu estou balançando no cantinho do quarto, eu sonho que fecho motoristas e estou certa). Se eu estiver errada, eu paro de buzinar, xingar, gesticular, gritar e vou levar uma vida reprimida bem mais feliz que a minha atual, de stress e nervosismo.

Pena que nem adianta dizer que eu gostaria de atropelar alguém algum dia, já que a cidade está repleta de jumentos, e atropelar um só iria estragar meu carro e me render uma bela dor de cabeça.

Nesses dias eu me lembro porque odeio essa cidade.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Vinde a mim, ó, almas reencarnadas!

Por que as vezes nós temos a brilhante ideia de dar corda pras pessoas, pra saber o que elas vão dizer sobre determinados assuntos que nos são caros ou pessoas que conhecemos.
Por que as vezes a ideia é realmente brilhante. E desnecessária. Como o caso de hoje, que está me fazendo pulsar a gastrite.

Eu não fico enchendo a caixa de correspondência das pessoas com jornais espíritas, não bato na porta de ninguém pra falar de reencarnação, não ofereço folhetos explicativos sobre vidas passadas e muito menos fico menosprezando a religião alheia, que eu acho um lixo.
Isso mesmo, um lixo. Quando o assunto é religião, a alheia é sempre um lixo e absurda, e a nossa é sempre a certa. Discussão infinita, que não vai mudar nada nem levar a lugar algum. Começá-la é puramente perder tempo e o amigo.

Ora pois, o que eu acho pior é ficar negando folhetinhos, tirar livrinhos evangélicos da minha caixa de correspondência e colocar na do vizinho, ouvir Jesus Jesus Jesus pra lá e pra cá. E ficar quieta. Mas quando há uma referência a qualquer coisa mínima que seja espírita, que nem tem porquê ser mencionada, eu ouço um esculacho! Tem algo de errado nesse mundo, não tem?

Hoje eu tive a brilhante ideia de dar corda pra alguém e tive que engolir não só o comentário como também a ferida palpitante no meu estomâgo, pois não queria nem perder tempo nem o colega.

Mas se eu respeito aquela porcariada toda, o mínimo que eu poderia esperar é respeito de volta. Se você acha a religião alheia um lixo, eu também acho e, hello, você já ouviu algum comentário meu sobre o assunto? Não? Então cale a sua boca. Porque se eu fosse das suas, você já teria percebido. E se não percebeu nada, significa que deve ficar quieta.

domingo, 16 de agosto de 2009

What not to wear

Adoro assistir a programas que me permitem não ter que pensar na informação que estou recebendo. Nesses casos, os meus favoritos são aqueles da E!, People+Arts ou alguns Discovery, principalmente os de moda e reconstrução de casas e fofocas de celebridades.

No entanto, havia um em especial que me levava a certos questionamentos a respeito da minha pessoa, e esse era o What not to wear.
Sempre sempre, as roupas eram inadequadas, juvenis, fora de moda, não combinavam ou eram simplesmente feias.
Isso me fazia olhar para o meu guarda roupa e me perguntar se eu não me encaixava perfeitamente no lugar de qualquer uma daquelas pobres vítimas.

Mas após assistir a mais alguns programas, eu finalmente percebi - para meu alívio - que a dupla de apresentadores não passam de dois déspotas. São incapazes de perceber o estilo de cada uma das pobres criaturas e colocam-nas em formas pré-moldadas de tamanho único. Todas as pessoas terminam o programa parecidas: todas seguem o mesmo padrão, todas compram o mesmo tipo de peça, fazem as mesmas combinações previsíveis e seguras.
Algo como Tem algo muito errado com você, mas nós vamos resolver o seu problema, fique tranquilo: basta seguir as nossas regras.

E aí, todas têm que ser chic, todas têm que gostar de jaquetas de couro e sapatos de cores estranhas e modelos duvidosos. Todas têm que sair de casa com pó na cara, disfarçando o que realmente são porque não aguentam se encarar ou porque precisam se melhorar.

Um outro programa do tipo, "10 years younger" entende o estilo da pessoa e só tem a pretensão de ajudá-la a se livrar da canseira e do peso que se acumularam em seu rosto durante os anos. Cortam-lhe o cabelo, fazem pequenos tratamentos faciais e mostram algumas opções de vestuário que façam com que o participante se sinta confortável. Muito mais real do que impor um estilo "adequado" que, na maioria das vezes, nada tem a ver com a pessoa.

Concordo que precisamos de ajuda algumas vezes. Mas mudar de estilo e de gosto, já é demais.
Just be yourself.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

heaven vs. hell

INVERNO
Tempo agradável
Moleton
Calça de flanela
Meia
Luva
Gorro
Cobertor
Cobertor de orelha
Fondue (de carne, queijo e, principalmente, chocolate)
Petit Gateau
Comida em geral
Banho quente
Vinho quente
Vinho
Monte Verde
Neve (com alguma sorte)
Sol massageador (e não ardido)
Roupas elegantes

VERÃO
Insuportável

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Normalidades

Às vezes me pergunto se eu realmente existo ou se sou apenas uma pobre criatura que inventa as relações interpessoais e, na verdade, mora num lindo sanatório no topo de uma montanha com uma vista deslumbrante, onde nunca faz calor. Ou talvez numa cidade tropical, com um calor infernal, sem ar condicionado, cujos miolos foram torrados pela alta temperatura externa, e que diz (essa sou eu no meu mundo real-inventado) que gosta de frio porque, internamente, tem um trauma colossal por ter enlouquecido devido ao calor.

Não é basicamente nisso que alguns tipos de loucos acreditam? Nós, olhando de fora de suas mentes fecundas e fechadas, apenas os vemos movendo-se ritmicamente pra frente e pra trás sentados no cantinho do chão de seus quartos, mas sabemos lá as coisas que eles veem, os lugares que visitam, o que passam.

Essas dúvidas me tomam principalmente em momentos que eu estou presente mas ninguém parece me enxergar. Como no trânsito, quando algum motorista quer tomar o meu lugar, contrariando as leis da Física. Ou quando estou esperando para ser atendida, e ninguém move um dedo em minha direção. Ou simplesmente naqueles momentos tão fantásticos que só podem ser inventados.

A coisa fica mais grave quando eu começo a imaginar se os meus problemas também sou eu quem os cria no meu dia a dia inventado. Para que a minha vida nem sempre seja de friozinho agradável, viagens de sonhos e refeições divinas. Assim como as outras pessoas, é preciso ter problemas na vida de vez em quando para nos sentirmos "normais".

E eu me acho muito "normal" nesse meu mundo inventado.

sexta-feira, 31 de julho de 2009

incompreensão

Era uma lua minguante.
Tinha aquela visão privilegiada da Terra aos céus pés.
Mas, ainda assim, uma lua minguante.
.
.
Como pode?

domingo, 12 de julho de 2009

Preto e Branco

Paulatinamente,
belas palavras pululam
da boca de um boneco de pano,
pescador de rosas azuis,
num planeta perfeito
em p&b.

sábado, 20 de junho de 2009

Que Admirável que Nada!

Quando eu disse a um amigo que eu não havia gostado de Admirável Mundo Novo, ele me olhou como se eu fosse verde e portasse duas graciosas antenas no topo de minha cabeça.

Então explico: é claro que se eu levar em consideração que o livro foi escrito no início da década de 30, não posso pensar outra coisa além do fato de Huxley ser um tremendo - fiadaputa - dum visionário, já que várias das coisas que ele citou em sua longa narrativa estão presentes nos nossos dias ou começando a aparecer. Claro que os diálogos foram excelentes, principalmente a conversa do Sr. Selvagem com o Administrador no final do livro, na qual aquele último explica ao primeiro como funciona a sociedade em que eles vivem e o porquê de certas coisas que o Selvagem não consegue entender - foi meu trecho favorito.

Mas o fato é que eu nunca gostei daqueles filmes de ETs em que eles sempre vêm dominar a Terra e escravizar os seres humanos. Ou daqueles filmes futuristas que mostram apenas miséria e um ser humano dependente de máquinas.

Eu, com todo o meu pessimismo, me recuso terminantemente a acreditar que o futuro vai ser assim. Que o ser humano vai ser gerado em laboratórios e condicionado a viver de tal ou tal maneira - e de humano não vai sobrar muita coisa. Que existirá uma divisão de seres superiores e inferiores criados propositalmente. Me recuso a acreditar que "mãe" será um palavrão pior que o nosso pior palavrão de hoje em dia ou que a leitura de Shakespeare será proibida por ser considerada imoral. Me recuso a acreditar que as pessoas serão encorajadas a não ter sentimentos um pelo outro e que uma droga qualquer vai nos tirar da realidade no momento em que esta se tornar desagradável para nós.

Me recuso a acreditar em tudo isso apesar de ser ingenuidade minha querer tapar os olhos pra coisas que já estão acontecendo.

Se não pensarmos que haverá um mundo melhor no futuro, então pra quê continuar vivendo? E aquela não pode ser a melhor concepção de futuro que o ser humano pode apresentar. Pelo menos não pra mim.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Público

a ponta da caneta toca o papel e vai soltando uma tinta que dá forma aos pensamentos.
os pensamentos, que só existiam dentro de nós, vão tomando forma no papel.
em preto, azul, vermelho, verde.
uns mais redondos, outros mais estreitos.
uns pra esquerda, outros pra direita.
grandes, pequenos.
os pensamentos, que antes eram privados, passam a ser de conhecimento público.
há algo mais perigoso que isso?

sábado, 11 de abril de 2009

Soturno

- pode dizer, meu filho.
- padre, as minhas mãos estão cheias de sangue.
- conte-me tudo, não tenha receio.
- eu matei mais três ontem.
- inimigos teus?
- não, eu não os conhecia. matei porque queria me divertir.
- e você se arrepende?
- não.
- então não veio aqui novamente para se confessar e pedir perdão a Zeus?
- não, vim matar o padre...
(tiro no ouvido)
- ... ele já sabia demais.

domingo, 15 de março de 2009

Espiando

não posso te olhar com minhas mãos
então,
apenas
a seguro forte em meus olhos
e sinto seu perfume,
apesar do cheiro do canteiro
de rosas amarelas
que sobreviveram à primavera
e nos observam passar
por essa rua
de uma cidade qualquer.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

O passado volta ao presente, alterando o futuro

[SPOILERS]
Apesar de outra grande questão abordada no filme O Leitor, há uma em especial que me chamou a atenção, algo que eu já sabia, sempre soube, mas que eu tomo consciência de forma ampliada agora: as pessoas vêm e vão em nossas vidas e, as vezes, quando elas voltam, já não há mais espaço pra elas.

No filme, os anos se passaram e a vida colocou os dois personagens principais frente a frente mais uma vez depois muito tempo. Como se diz, muita água passou por baixo da ponte. Ela, porém, não tinha conhecimento de que era ele quem estava, aos poucos, tentando entrar em sua vida. E ele, por sua vez, preferiu o anonimato.

Ela suportou vinte anos de cárcere mas não suportou cinco minutos frente a ele. Colocou fim à própria vida antes de cumprir a pena e antes do reencontro entre os dois. Chocou-me pensar que ela foi capaz de enfrentar uma vida na cadeia mas não foi capaz de rever uma pessoa que teve um papel tão importante em seu passado. Vinte anos no cárcere versus cinco minutos de conversa com ele. E a decisão foi tomada. E concluída.

É grande o impacto que certas pessoas causam em nossas vidas. E grande deve ser o que causamos em certas vidas alheias. Muitas vezes nem sequer tomamos consciência disso.

Apenas quando ele voltou é que ela se deu conta da mudança que ocorreu com o passar dos anos. E como ele não cabia mais no momento presente. Seja por vergonha, por ter tido seu segredo exposto, ou por simplesmente achar que o momento passou e que os anos o deixaram pra trás e ele não deveria mais entrar em sua vida. Talvez por que a separação foi difícil. Talvez por que foi necessária.

Os anos passam... ferozes. Vão deixando parte de nossas vidas no esquecimento enquanto vão relembrando e trazendo a tona outros momentos. A grande questão que o filme despertou é: podemos/ queremos suportar?

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Se eu desligar, vai estar funcionando quando eu ligar de novo??

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Limbo

... o tempo urge para frente e a mente corre para trás. Onde estou? No limbo entre você e eu.
Mas o mundo real não perdoa e, como em um jogo de videogame, vai lhe dando pancadas na cara até você se mexer e resolver revidar. É revidar ou morrer. Game over. As vezes você tem outra vida. As vezes não.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Maratona

Eu estou correndo, correndo o mais rápido que posso
Você realmente acha que me conhece?

O sangue em minhas mãos não está desvanecendo
E eu continuo correndo.

Vermelho em minhas mãos, em tudo ao meu redor
Estou indo rumo ao fosso
Onde todas as minhas vidas se encontram
E todos os meus medos se encerram
E onde tudo se resolve.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Ausência

Sou rua escura,
beco sem saída,
sou jogo de futebol sem torcida.
Sou sorvete
sem calda de chocolate,
sou leilão
sem arremate.
Sou praia
em dia de chuva,
sou ribeirão
de águas turvas.
Sou parque de diversões
sem roda-gigante,
sou filme de coadjuvantes.
Sou uma folha amarela,
triste em plena primavera.

Afinal, que graça tem a vida sem você?

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O dia em que o vento bateu forte em meus cabelos

Aquela sensação era tão boa que eu não queria que ela terminasse nunca.

Eu queria pegar o caminho mais longo para continuar sentindo o vento balançando e embaraçando meus cabelos, tocando forte meu rosto e fazendo com que meus lábios se abrissem num sorriso de satisfação, que há muito eu ensaiava.

Há quanto tempo não me sentia tão livre, tão solta, tão só eu mesma, sem mais nada nem ninguém ao meu redor.

O carro ia a toda velocidade e eu ignorava os radares na rodovia. Não podia me concentrar neles, meros coadjuvantes daquele momento em que finalmente me sentia tão bem comigo mesma.

Meus pensamentos estavam indo com o vento enquanto eu ia apreciando a paisagem, os carros passando ao meu lado - na verdade, eu passando por eles. Surpreendeu-me ter deixado de ver tantas coisas ao longo do caminho que deviam estar lá há muito tempo. Surpreendeu-me perceber como se eu sempre passei por ali tão preocupada e absorta em meus problemas. Agora eu observava tudo, como se minha visão tivesse se renovado, como se o mundo fosse um lugar que eu não visitava há muito tempo. E agora eu reparava as mudanças, eu estava extremamente atenta a tudo que ocorria fora das janelas do meu carro.

Meu pé pisava firme o acelerador na mesma medida em que meus pensamentos voavam mais rápido para longe de mim. Quantas árvores, quantas placas, quantas pontes, casas agora eu podia ver. Tudo era incrivelmente lindo e interessante para mim.


Agora, presa em baixo do carro, eu posso ouvir as sirenes chegando a toda velocidade - porém não tão rápido quanto eu estava, há alguns minutos. O mundo está ficando confuso, e agora eu vejo pontos pretos por todos os lados.
Ela acabou de chegar em seu vestido vermelho, se colocando entre eu e a fresta de sol que teimava em abrir caminho através das ferragens retorcidas. A fresta de sol que me impedia de dar a última olhada nesse mundo que eu estava deixando. Mas ela havia chegado, escurecendo mais ainda minha visão, fazendo com que o sol não mais pudesse penetrar em minhas veias, em minha vida.

E eu, finalmente, não voltei a vê-lo.