terça-feira, 6 de janeiro de 2009

O dia em que o vento bateu forte em meus cabelos

Aquela sensação era tão boa que eu não queria que ela terminasse nunca.

Eu queria pegar o caminho mais longo para continuar sentindo o vento balançando e embaraçando meus cabelos, tocando forte meu rosto e fazendo com que meus lábios se abrissem num sorriso de satisfação, que há muito eu ensaiava.

Há quanto tempo não me sentia tão livre, tão solta, tão só eu mesma, sem mais nada nem ninguém ao meu redor.

O carro ia a toda velocidade e eu ignorava os radares na rodovia. Não podia me concentrar neles, meros coadjuvantes daquele momento em que finalmente me sentia tão bem comigo mesma.

Meus pensamentos estavam indo com o vento enquanto eu ia apreciando a paisagem, os carros passando ao meu lado - na verdade, eu passando por eles. Surpreendeu-me ter deixado de ver tantas coisas ao longo do caminho que deviam estar lá há muito tempo. Surpreendeu-me perceber como se eu sempre passei por ali tão preocupada e absorta em meus problemas. Agora eu observava tudo, como se minha visão tivesse se renovado, como se o mundo fosse um lugar que eu não visitava há muito tempo. E agora eu reparava as mudanças, eu estava extremamente atenta a tudo que ocorria fora das janelas do meu carro.

Meu pé pisava firme o acelerador na mesma medida em que meus pensamentos voavam mais rápido para longe de mim. Quantas árvores, quantas placas, quantas pontes, casas agora eu podia ver. Tudo era incrivelmente lindo e interessante para mim.


Agora, presa em baixo do carro, eu posso ouvir as sirenes chegando a toda velocidade - porém não tão rápido quanto eu estava, há alguns minutos. O mundo está ficando confuso, e agora eu vejo pontos pretos por todos os lados.
Ela acabou de chegar em seu vestido vermelho, se colocando entre eu e a fresta de sol que teimava em abrir caminho através das ferragens retorcidas. A fresta de sol que me impedia de dar a última olhada nesse mundo que eu estava deixando. Mas ela havia chegado, escurecendo mais ainda minha visão, fazendo com que o sol não mais pudesse penetrar em minhas veias, em minha vida.

E eu, finalmente, não voltei a vê-lo.

Um comentário:

Anônimo disse...

ela sempre vem mesmo...