quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Febre

Assim como outras milhares (?) de pessoas - meninas -, também fui acometida da febre Crepúsculo. Assisti ao filme e rapidamente empolguei-me com a fascinante história de vampiros. Histórias de vampiros são sempre convidativas, talvez pela vida fantástica que levam, seus modos, costumes. Ou talvez por serem todos branquelos e não gostarem de sol e eu simplesmente me identificar de alguma forma com isso.

Digo febre, porque comecei minha leitura de Crepúsculo no sábado e pretendo terminá-la amanhã. Não de Crepúsculo, mas de Breaking Dawn - o quarto livro da série. Acho que férias ajudam a agilizar as coisas.
Agora. a leitura parece fluir não tanto com prazer, mas como algo que eu preciso completar para me ver livre disso. Crepúsculo foi prazeroso. Mas aí vieram Lua Nova e Eclipse. Espero que Breaking Dawn tenha cem páginas que valham a pena.

Odeio ler o que todos estão lendo, odeio ser assim comum. Prefiro me ater aos García Márquez, Kundera, Saramago, Camus. Sim, são lidos, mas não são exatamente best-sellers.
Mas parecia não haver outra escolha dessa vez.

A leitura começou interessante. Se tivesse lido o livro antes de ir ao cinema, certamente ficaria decepcionada com os vários capítulos que não puderam entrar na adaptação. Compreenderia, apenas. No entanto, a medida que as - muitas - páginas foram se passando, um comentário entalou em minha garganta: a mulher perdeu o controle. Não, não estou falando de Bella Swan - apesar de ela não lembrar mais tanto a Bella do primeiro livro. Estou falando de Meyer.

Ok, querida, o seu primeiro livro vendeu bastante. Mas isso não justifica você ter querido tanto copiar Romeu e Julieta, Morro dos Ventos Uivantes, Harry Potter e isso é só pra começar. Não justifica de maneira alguma colocar tanto catolicismo num livro de vampiros. Se quisesse contar uma historinha de meninas, devia ter lido Sabrina ou Júlia e feito algo em cima disso - se é que realmente não há algo disso, já que nunca me dei ao trabalho de lê-los. Não justifica colocar Hopês no livro, com aquela parte de Volturi e Volterra. Não justifica escrever 700 páginas de baboseira para darnos o que gostaríamos de ter visto logo no início. E eu espero que, pelo menos, seja bom.
Infelizmente, as críticas da internet não foram muito favoráveis. Mas ela soube, de certa forma, como nos manter agarrados as suas infinitas continuações. Dê poder a alguém, e verá no que se transforma. Tenho impressão que seus filhos escrevem parte do roteiro. "Crianças, o livro da mamãe só tem 400 páginas.. o que gostariam que eu incluísse?" E lá se vão mais 200, 300 páginas de blábláblá.

A cada dia que passa eu olho pros lados e me pergunto porque não comecei a escrever um livro ainda. Uma pontada de baixa auto-estima desce em mim, dizendo que eu não teria criatividade suficiente para levar um livro a cabo. Nas aí me deparo com criaturas como Meyer e certas outras que até ocupam uma cadeira na ABL e eu prefiro não mencionar - mesmo porque não acho necessário. E a pergunta simplesmente continua pairando no ar.

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Caverna e Realidade

Revolucionário.

É como eu resumiria o livro A Caverna, de Saramago, em uma palavra - se é que não estou sendo maldosa em reduzir um tijolão de 350 páginas em apenas catorze letras.

Mas esse é o sentimento que foi crescendo a medida que as páginas iam sendo viradas. Com ele, uma onda enorme abraça o leitor e abre seus olhos para uma auto análise e uma análise do que há em volta. Como todo livro de Saramago.

A realidade é dura demais e vai incomodando o ser humano.
Antigamente ninguém se preocupava em trancar as portas de casa como se faz hoje em dia. A necessidade inventou o portão eletrônico, a cerca elétrica, as câmeras de segurança, a segurança 24 horas. Antigamente, não era preciso nem cercar a casa com portões. Hoje em dia, todas as medidas de segurança são poucas e o indivíduo vai morar num condomínio fechado. Mas ainda não basta: ele tem que sair do seu casulo para levar as crianças na escola, fazer compras, ir ao cinema ou jantar num restaurante bacana. E ele é abordado no semáforo, na calçada, no portão de casa. E todos aquele aparatos se mostram inúteis.

E qual é o próximo passo? Um lugar que ofereça tudo isso! Claro! Como ninguém havia pensado nisso antes! Um lugar livre de roubos, de desconhecidos suspeitos, de maldade. Um lugar em que possamos oferecer tudo que uma pessoa precisa: casa, diversão, educação, saúde!

E o indivíduo paga pela sua paz de espírito. Por que a realidade lhe dói e ele não quer fazer parte das estatísticas. Ele paga e vai morar num lugar desses. Onde não precisa sair. Onde não vê o mundo, não pisa na grama, não ouve os pássaros, onde o único vento que ele sente mexer os cabelos é o do ar condicionado, apontado para si numa tentativa de não passar calor. O mundo está desmoronando, os problemas sociais aumentando e ninguém quer saber de fazer nada. A única atitude que tomam é livrar o seu traseiro dessa insanidade. E os problemas só se agravam. Mas quem se importa?

E o indivíduo vive feliz. Controlado. A mente fechada na realidade que lhe oferecerem, como se essa fosse a verdadeira.
Assim como no mito da caverna de Platão, segundo o qual algumas pessoas viviam acorrentadas no fundo de uma caverna, e dispunham de apenas um feixe de luz que projetava na parede as sombras do que acontecia no mundo exterior. Para as pessoas que estavam na caverna, aquela era a realidade lá fora. Uma delas, no entanto, conseguiu quebrar as grilhões e sair, descobrindo que aquelas sombras eram feitas por outros homens, além de conhecer todo o mundo que havia lá fora. Essa pessoa decidiu voltar à caverna, pra dividir o que viu, mas não foi bem recebida pelos que ficaram lá dentro.

O triste é que nós não queremos sair da caverna, mas entrar nela.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Qual futuro?

Carros cada vez mais inacreditavelmente potentes. Computadores cada vez mais inacreditavelmente evoluídos. Robôs cada vez mais inacreditavelmente úteis.
A modernidade está entre nós. Sentimos seu cheiro, provamos do seu gosto. E adoramos!

Bombas cada vez mais potentes. Sistemas de destruição cada vez mais evoluídos.
A modernindade está entre nós. Sentimos na pele seus efeitos e provamos das suas conseqüências. E achamos normal!

Toda vez que eu assistia algum filme sobre o futuro, saía do cinema um tanto quanto ressabiada. ETs chegando em gigantes naves espaciais para destruir a Terra, ondas colossais que engoliam cidades inteiras em questão de minutos, o nada tomando conta do mundo. Não pode ser assim.

Daí li Admirável Mundo Novo. Não tem ETs nem ondas gigantes e nem "o nada". Sim, Huxley foi um tremendo dum visionário, blábláblá. Mas eu tenho o direito de não gostar porque esse tipo de futuro simplesmente me aterroriza. E me aterroriza mais ainda notar que várias das coisas descritas no livro já são usadas por nós no dia a dia em menor grau ou de maneira diferente (e me aterroriza Huxley ter pensado em todas essas coisas em 1930).

No livro, as pessoas são criadas em laboratórios sem qualquer vínculo afetivo com ninguém e já "programadas" para a posição social que vão ocupar, fazendo com que mãe torne-se um palavrão pior que qualquer um que você possa imaginar.
O soma é usado como mecanismo de fuga e chega ao ponto de ser incentivado pelo "governo", fazendo com que as pessoas vivam cada vez mais em função de seus próprios umbigos.
Os livros são mantidos longe do alcance das pessoas, para que possam crescer alienadas nos seus mundinhos sem conhecer nada que possa prejudicar ou colocar o sistema em risco.

A alienação faz com que o mundo fique perfeito e assim os alienados são felizes.

Creio que preferia as ondas gigantes e as naves espaciais, que pareciam muito menos prováveis do que os elementos encontrados nesse livro, que já estão ao nosso redor de uma maneira ou outra.
Já vemos bebês de proveta, antidepressivos, filhos matando pais, informação mantida longe do alcance das crianças para que elas cresçam analfabetas e desinformadas e sem noção de cidadania.

E eu me pergunto porque toda visão de futuro tem que ser tão negativa.
Por que as pessoas não podem tomar consciência das coisas erradas que vêm fazendo e corrigi-las, salvar o mundo, minimizar os efeitos do aquecimento global e até salvar o urso polar da extinção?!

Sim, precisamos do aviso, precisamos do alerta vermelho. Só não vejo ninguém fazendo nada para evitar que essas previsões deprimentes se tornem verdade. Quando vamos acordar, e qual futuro estamos preparando para nós mesmos?

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Mal Branco Mal-Entendido

Inacreditável o artigo que li agora há pouco.

Não escondo de ninguém que acho Saramago uma das pessoas mais fabulosas do planeta e não pretendo defendê-lo com este texto. Não há por quê.

É inacreditável que alguém realmente pense que um filme (e, primeiramente, um livro) que representa tantas metáforas possa veicular uma idéia preconceituosa de algo. Eu não preciso defender Saramago pois eu tenho a mais absoluta certeza que meros cegos incompetentes, sujos, viciados e depravados foram a última coisa que passou pela sua brilhante cabeça. Talvez brilhante demais para alguns, incapazes de enxergar que o livro não trata verdadeiramente sobre pessoas que cegaram. O livro fala de um outro tipo de cegueira, aquela de que a maioria de nós sofremos.

Cegueira que nos faz achar que somos melhores que os outros, que temos mais direitos que os outros. "Mal branco" que só permite enxergar nosso próprio umbigo e imaginar que o mundo deve estar girando em volta dele.

Ora, pois, logo no início do filme/ livro, quando o primeiro cego está tentando voltar para casa, a pessoa que lhe rouba o carro não é cega e, no entanto, como se explica ação tão vil?
A atitude das pessoas que despejavam os cegos no sanatório, confinados e longe das "pessoas normais" também não foi nobre. Veja, não estavam cegos e passaram, de certa forma, por incompetentes, sujos, viciados e depravados.
Quando um dos cegos necessitou de medicamento para um ferimento na perna, foram as pessoas que enxergavam que lhe negaram. Que o deixaram morrer.
Que dizer das mulheres cegas, que decidiram aceitar a extrema humilhação de alugarem seus corpos pela comida que iria saciar a fome de vários outros desconhecidos que elas sentiram necessidade de ajudar, uma vez que compartilhavam da mesma situação?

Não, a cegueira de que trata o livro/ filme definitivamente não é a mesma cegueira que está reclamando a Federação Nacional do Cegos.
É a cegueira que cada um de nós traz para a sua vida cada vez que ignora uma pessoa pedindo ajuda ou passando por necessidades. É a cegueira que faz com que nos achemos superiores a alguém porque temos um centavo a mais que essa pessoa. É a cegueira que nos coloca em um trono porque nos faz incapazes de olhar para os lados e nos dar conta de que essa é a última coisa que o mundo em que vivemos precisa: de mais um cego espalhando discórdia e destruição.
É um espetáculo de degradação humana que vemos passar diante de nossos brancos olhos todos os dias.
Degradação que apenas uma pessoa no livro/ filme foi capaz de ver com os olhos do corpo e decidir o que fazer a partir disso. Uma pessoa sã. Uma pessoa que não era cega de alma, que tinha todos os motivos para agir como aqueles à sua volta e, no entanto, manteve-se sã da maneira como podia. Uma pessoa que encontrou outros como ela, cuja única diferença é que ela tinha os olhos do corpo para guiar-lhes o caminho pelo qual todos concordaram em traçar.

"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara"

"Penso que não cegámos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem"

domingo, 28 de setembro de 2008

Sabedoria alheia

"Cura-se a ferida de uma espada; mas é incurável o que faz uma língua." (adágio árabe)

Sem trocadilhos, por favor.