Cumpriu sua pena.
Depois de longo tempo em reclusão finalmente foi posto em liberdade. Depois de longo tempo, reforçado pelas duras horas pelas quais passou, cumprindo trabalhos forçados e sendo torturado física e psicologicamente, mal podia acreditar havia chegado a hora de dizer adeus àqueles dias.
Não sabia bem o que fazer, como agir, onde ir. Então achou que era melhor deixar-se levar pelo seu instinto nessas primeiras horas, nesses primeiros dias de vida. Após completar o procedimento de saída, viu-se tão ávido a sair logo daquele lugar que nem se deu conta de que já estava caminhando livre.
Após cruzar a velha estrada, sentiu o sol dar-lhe um tapinha nas costas. Há quanto tempo não sentia o solzinho esquentar-lhe os ombros! Aí sim, deu-se conta, de que já estava fora, de que já havia cumprido sua parte, de que não devia mais nada a ninguém - apenas a si mesmo, e isso ele carregaria pelo restante de sua vida, recluso ou não. Neste momento, ouviu também a festa que os passarinhos faziam, ouviu o vento balançar as folhas das árvores e levantar graciosamente a poeira do chão. Sentiu-se vivo.
Sentiu-se vivo e deu-se conta de que estava com sede e seguiu em direção ao riacho. Caminhou um pouco, mas o sol os passarinhos ainda lhe acompanhavam, e ele estava feliz. Ao chegar na margem, agachou-se e fechou as mãos numa tentativa de formar um copo onde pudesse colher um pouco de água para beber. Repetiu o ato várias vezes e, então, decidiu-se livrar daquele cheiro, daquele asco que aquele lugar tinha. Como o lugar era deserto, tirou as roupas, dobrando-as cuidadosamente e colocando-as onde estava sentado, entrou na água e sentiu-a, na temperatura mais perfeita, envolvendo seu corpo.
Demorou-se naquele momento tão renovador e, quando finalmente saiu, sentou-se na borda do riacho, observando a natureza em volta e tudo que havia perdido naquele longo tempo em que perdera contato com o mundo. Sentiu-se tão a vontade que parecia que simplesmente estivera naquele mesmo lugar sua vida toda.
Agora, a vida estava apenas (re)começando.
Um comentário:
Muito massa, Pezinho!
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