quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Lacuna

Seus cabelos ruivos balançavam. Mas não balançavam ao vento, e sim, ao movimento rítmico que ela fazia, sentada naquela cadeira desconfortável que estava tão próxima da parede que chegava a fazer sulcos.
Esperar simplesmente a deixava louca. Mas ali estava ela, esperando. E não havia nada mais que ela podia fazer.

Ainda assim, sentia necessidade de se colocar em movimento. Olhava para todos os lados até descobrir algo que poderia fazer. Finalmente encontrou um copo mal encaixado no suporte, que estaria prestes a cair. Levantou-se rapidamente e foi arrumá-lo. Estava voltando a sua cadeira, mas resolveu dar voltas. Sete passos pra lá e tornava a fazer o mesmo caminho de volta. Pra lá e pra cá.

Sentia que tinha atividades não terminadas, que estava perdendo tempo, que teria muito a fazer se pudesse estar em casa. Como se já não tivesse feito tudo antes de sair.

Voltou a sentar-se, inquieta, balançando as pernas como uma criança que não consegue tocar o chão quando está sentada na cadeira da mesa de jantar, entediada com o prato de verduras que a mãe colocou em sua frente porque você tem que comer direito, minha filha, pra crescer forte e saudável.
Seus dedos começaram a tocar a cadeira ao lado, como duas baquetas mostrando como se faz um rock pesado. Resolveu procurar um chiclete na bolsa, para mastigar sem sentido e sem propósito enquanto folheava mecanicamente a primeira revista de fofocas que retirou da mesa ao lado.

Finalmente a porta se abriu, um jovem saiu do consultório andando lentamente e no mundo da lua, até que uma figura materna lhe acudiu perguntando como foi sua terapia hoje? O menino começou a responder no exato momento que ela se virou e viu o rosto enrugado da médica na porta, sorrindo e esperando por ela.

Pulou da cadeira imediatamente e cuspiu o chiclete fora antes de entrar.

Um comentário:

Maíra Colombrini disse...

Eu ODEIO salas de espera... dentista, ginecologista, cabeleireiro, terapeuta... todas me irritam.

Bjs