segunda-feira, 24 de agosto de 2009

A vida na granja urbana

Estou vivenciando o que eu chamaria de o upgrade da Revolução dos Bichos: no livro, eles (apenas) expulsam o fazendeiro e começam a cuidar da fazenda sozinhos, em todos os sentidos. A novidade é que, aqui onde moro, os bichos também viraram motoristas.

Todos os dias galinhas, porcos, jumentos e cavalos cruzam a minha frente sem medir consequências; na "Granja do Solar" da minha vida, as galinhas desfilam em seus carrões e esquecem que o trânsito requer atenção permanente. Os porcos jogam lixo pra fora do carro inescrupulosamente. Os jumentos, por sua vez, violam as leis de trânsito, não respeitam a sinalização e os limites de velocidade e nunca estão errados em suas escolhas. E os cavalos cortam a frente, fecham os outros, reclamam, xingam, não dão espaço para ninguém entrar. E, claro, todos estão sempre certos.

Todos os dias, eu encontro tais bichos no trânsito, mas em nenhum momento eu me irrito tanto quando estou prestes a voltar para casa. Meu prédio ocupa uma esquina, cuja rua do lado leva a rua de mão dupla e faixas estreitas que passa em frente a ele. A rua do lado tem uma sinalização de Pare, que motorista algum gosta de obedecer. Minha seta vem piscando desde a metade do quarteirão anterior e, mesmo assim, eu tenho que frear para não atropelar motociclistas que acham correto passar entre o meu carro, prestes a embicar na garagem, e a calçada (ou, sugestão recente, que acreditam que eu devo esperar o portão se abrir no meio da rua, provavelmente enquanto observo a fila de motoristas raivosos se formando atrás de mim).

Eu só gostaria de saber se estou errada (vai que essa também é uma situação inventada: enquanto eu estou balançando no cantinho do quarto, eu sonho que fecho motoristas e estou certa). Se eu estiver errada, eu paro de buzinar, xingar, gesticular, gritar e vou levar uma vida reprimida bem mais feliz que a minha atual, de stress e nervosismo.

Pena que nem adianta dizer que eu gostaria de atropelar alguém algum dia, já que a cidade está repleta de jumentos, e atropelar um só iria estragar meu carro e me render uma bela dor de cabeça.

Nesses dias eu me lembro porque odeio essa cidade.

Nenhum comentário: