segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

O fim

Meu hamster já é um senhorzinho. Se fosse humano, seria um daqueles velhinhos simpáticos a primeira vista, que andam com dificuldade com cara de paisagem. Teria uma bengalinha para auxiliar a caminhada e, cada vez que algum mocinho fosse tentar ajudá-lo a atravessar a rua, levaria um beliscão!
Pois ontem me assustei em perceber como ele já está velhinho e com dificuldade pra tudo. Ele gosta de dormir na parte de baixo da gaiola, no subsolo, digamos. Ontem percebi que ele estava meio largado no "térreo", perto da tigela com ração e da água. Coloquei o bebedouro perto de sua boca e ele avidamente sugou a água. Aí me dei conta: tentou chegar lá, não teve forças e parou no meio do caminho. Coloquei um pouco de comida perto dele e o ajudei a descer de volta ao subsolo. Virei as costas e comecei a ouvir um barulho: não é que o danado, mesmo não se aguentando em pé, resolveu roer a grade! Ele certamente saber que isso me deixa louca. É um velhinho safado...

De qualquer maneira, apesar de ser apenas uma pequena criaturinha, me levantou uma questão: porque é necessário passar pelo sofrimento antes da morte? Porque todos nós não temos uma morte suave, enquanto dormimos, sem dor nem dificuldades?

Depois de uma vida cheia de percalços - quem não os tem? - poderíamos, ao menos, ter um pouco de dignidade nesse derradeiro momento da nossa passagem pela Terra.
Em vez de ficarmos insanos, com atitudes infantis (como se regredíssemos com o passar do tempo), esquecidos de fatos banais, confusos, mal humorados, violentos, fracos.. poderíamos chegar lúcidos e com boa saúde até certa idade e puff.. morrer.
Morrer enquanto ainda somos nós mesmos, enquanto ainda somos capazes das coisas mais básicas, enquanto ainda somos independentes. E isso podia ser tão natural que ninguém ficaria triste, ninguém sentiria que arrancaram violentamente uma pessoa do seu convívio. As pessoas iriam entender que a jornada daquela pessoa simplesmente chegou ao fim, como devia ser.

Não entendo esse tesão de certos cientistas em querer prolongar a vida em sei lá quantos anos! As doenças ainda estão aí, achem a cura pra elas primeiro!

Eu não quero viver pra sempre. Eu quero viver com plena saúde até o dia que eu não tiver mais que passear por esse mundo.
Eu não tenho medo da morte, tenho medo de como estarei quando ela chegar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Me lembro sempre se uma música do Gil que diz que "morrer deve ser tão frio quanto na hora do parto". Talvez a morte seja um rito de passagem mais, por isso o sofrimento do corpo, que é o que morre. O espírito, ou esse arzinho ao que chamamos vida, talvez permaneça. Talvez não. O importante é manter um espírito forte e em paz, porque se ele permanecer, talvez continue seu crescimento ou evolução; se ele se esfumar, ele não sofrerá com o corpo na derradeira hora.